quinta-feira, 22 de setembro de 2011

Continuação Capítulo dezessete

No “viciobook”, entrei no perfil de Johnnie para dar aquela “fuxicada”. Me surpreendi com tantas poesias! Será que ele mesmo quem as escrevia? Li todas.
Não demorou muito para ele me chamar no bate-papo. Ok, vamos pensar. Se ele me chamou no bate-papo é porque não está fugindo de mim, e se não está fugindo de mim... É porque gostou de mim! Ah, que felicidade! Conversamos muito, durante horas. O papo era tão bom que deixei minha barra de chocolate de lado e meus livros de romance também.
Combinamos de sair hoje a noite para um barzinho super aconchegante perto de casa mesmo. Tomamos alguns drinks e comemos comida japonesa! Falei um pouquinho de mim e ele falou também dele. Gostei muito. Ele aos 27 anos já tinha sua empresa dando super certo! Morava sozinho e amava seus pais! Lembrei de uma frase que minha mãe sempre diz: - Bom filho, bom marido! Calma! Não é isso que vocês estão pensando... Não quero me casar agora, apenas adaptei esta frase, pois, ele também pode ser um bom companheiro ou namorado! Quem sabe, né?
 Noite perfeita! Até minha mãe me ligar... Porque mães ligam sempre na hora errada? Que saco! Depois do “micão”, ou melhor, “gorila”, tive que ir embora, bem, já era tarde! Antes de dizer adeus, mais beijos.
Dormi com seu cheiro, novamente!
Johnnie ia viajar a trabalho para São Paulo. Nos despedimos indo até a praia do Arpoador ver o pôr-do-sol. Johnnie recitou poesia para mim, e eu boba! Quase uma idiota! Amava quando ele apertava os lábios com os dentes para falar qualquer coisa ou mexia nos cabelos. Ele dizia que eu era linda e perfeita para ele! Queria namorar comigo, logo! Mas eu na verdade não o conhecia tanto para começar a namorar ele.
Duas semanas sem ver Johnnie. Nos falamos quase todos os dias. Ele até chegou a me mandar um bouquet de flores amarelas junto com uma caixinha cheias de bombons decorados e uma carta impressa. Como pode ser tão perfeito e encantador? Adivinhou tudo. Deve ter lido meu manual de instruções! A carta dizia:

“Clara, minha girl. Estou te mandando essas flores e esses deliciosos chocolates, não por que sei que você gosta e sim porque tenho um carinho enorme por você, já!
Há pouco te conheço e já estou apaixonado pela sua beleza completa, louco para te ter só pra mim, louco para te olhar, te admirar e sonhar com você todos os dias. Acordado ou não. Beijar-te até o sol raiar!
Eu gostaria muito de ouvir de sua boca que também me deseja, e me quer só pra você! Pode ser cedo, mais meus sentimentos são verdadeiros! Acredite nisso!
Espero corresponder suas expectativas no momento. Quando chegar ao Rio precisamos conversar. Preciso te contar algo antes de qualquer coisa.
Um beijo de seu futuro amor... , Johnnie”


Terminei de ler. Estava gostando dele também. Naquele momento percebi que podíamos dar certo, por que não? Fiquei insegura apenas porque queria me contar alguma coisa...  O que poderia ser? Será que ele vai se mudar para São Paulo? Ou ele tem medo de se relacionar comigo porque sou nova para ele? Não faço idéia! Vou aguardar com muita curiosidade que esse dia chegue logo!

Mais uma semana se passou. E nada de Johnnie.
Não ligou, não mandou carta, nem entrava na internet como costumava entrar. Sua caixa de recado já tinha duas mensagens minha, preocupada com ele.
Seis horas da tarde neste mesmo dia, saindo do curso, uma mensagem de Johnnie em meu celular.

“Girl, não se preocupe comigo estou sossegado. Podemos nos encontrar hoje à noite para conversar? Passarei em sua casa para te buscar as 20hrs. Tudo bem? Beijos Johnnie”

Respondi que sim, apesar de ter prova de sociologia amanhã e não saber absolutamente nada.
 As oito horas, em ponto, toca meu celular. Johnnie já havia chegado, nem me deu mais um minuto para terminar minha produção. Vou assim mesmo...
Assim que me viu, um sorriso contente em seu rosto, um abraço bem apertado. Fomos conversando e demorou para ele tocar no assunto da tal coisa que queria tanto me contar. Mas eu naquele momento estava preparada para ouvir qualquer coisa que ele falasse. Ou não.
No bar. Ele sentou em minha frente como o costume. Tomou refrigerante e eu um suco de tamarino. Começou dizendo:
- Clara eu não quero ficar só por ficar com você. Você sabe disso. Gosto de uma coisa mais séria, mais certinha, posso não passar essa imagem, mais gosto disso.
- Eu entendo você Johnnie. Só acho que nos conhecemos pouco para começar uma relação agora. Deveríamos esperar um pouco mais talvez...
        - Não é isso que me prende. Não é porque te conheço pouco, baby. Nem porque você é nova. Aliás, acho você mais madura do que eu. O que vou te dizer agora, podemos nunca mais nos falar!
        - Diga, diga logo! Eu não deixaria de falar com você... Fala Johnnie!
        Naquele momento, um silêncio. Um frio na barriga. Meus olhos fixos nos olhos dele. Johnnie nervoso e ao mesmo tempo sossegado. Ansiosa para ouvir logo, talvez estivesse até mais nervosa do que ele. Johnnie pega em minhas mãos. Olha para mim sério, aperta seus lábios com os seus dentes e franzi a testa.
        -Clara, eu sou bissexual!
Não sei descrever minha expressão naquele instante. Esperava tudo! Menos que ele fosse Bissexual. Até cheguei a pensar que ele teria cinco filhos! Ou que era “dono de boca’, ou um hacker , ou sei lá! Não acreditei...
        - Bi... Bisse... Bissexual!
Queria muito que ele desmentisse. O que não aconteceu.
        -Vou entender girl se você não quiser continuar a ficar comigo! Eu estou acostumado! Passo sempre por isso.
        - To sem palavras Johnnie!
E realmente estava. Não sabia o que dizer, confesso que até vontade de chorar eu tive!
        -Clara... Desculpa não ter te falado antes. Mas, eu quando fico com alguém eu só fico com uma pessoa. Não faço bagunça em minha vida, gosto de ficar apenas com uma pessoa, homem ou mulher.
        Agora mesmo que fiquei sem palavras. Pedi licença e fui ao banheiro, telefonar para alguém... Podia fazer ou dizer alguma besteira, não queria correr esse risco, pois gostava muito do Johnnie. Tentei ligar para duas amigas. Nada. Liguei para outra, uma mais certinha do que as outras. Me surpreendi. Ela me disse para eu aproveitar e ficar com ele e outro cara. Me ajudou muito! Desliguei quase em sua cara e pensei... Pensei... Acho que fiquei uns trinta minutos ouvindo gente querendo entrar no banheiro. Resolvi dizer o que pensava, apenas o que pensava... Sem opnião de outras pessoas...
        -Johnnie, voltei!
        -Sempre desconfiava que o banheiro era o melhor amigo de uma mulher, agora tive certeza!
        -Bobo! Eu não queria dizer besteira para você, resolvi pensar sozinha. Mas acho que não foi uma boa idéia fazer isso no banheiro porque além das pessoas batendo na porta, o cheiro era insuportável...
        -Só você para me fazer rir nessas horas girl. E você? Quer me dizer algo também depois de minha revelação?
        Olhava para Johnnie, quer dizer, para seus lábios e seu olhar sedutor. Meu corpo, minha boca queria-os. Mas eu no fundo não poderia continuar um caso ou futuramente uma relação com um bissexual. Não tenho preconceito, é apenas porque não me adaptaria com a ideia de imaginar ele na cama com um homem sempre que eu o olhava... Foi difícil me expressar. Difícil eu aceitar nossa separação relâmpago. Não sabia por onde começar.
Mas falei. Disse tudo! Johnnie entendeu. E por eu ter sido sincera ele ainda me procura e eu ainda o procuro. Uma estória quase inacabada!
        Olho para Johnnie, para suas fotos, leio suas poesias e me lembro apenas de momentos bons ao seu lado. Dias iluminados, cheio de risadas e alegria! Pouco tempo e muita intensidade. Muitos beijos e poucos amaços. Continuávamos nos falando. Mas nunca mais nos encontramos!
        Alguns meses se passaram. Depois de um dia inteiro de trabalho, fui dar uma volta no Arpoador ver o pôr-do-sol que é sempre lindo. Um cheiro no ar... Cheiro de Johnnie, luz dourada refletindo no mar, a maresia fresca... Sempre me recordo dele.  Fui subindo até chegar ao topo. Subindo me lembrando de suas poesias, do seu brilho no olhar diante ao sol, seu sorriso perfeito. Chegando lá em cima, um vento forte. Meus cabelos voando e fazendo fechar levemente meus olhos. Meu coração transbordando de saudades dele. Um aperto no coração! Uma mão vazia e nenhum sorriso no rosto. Fechei meus olhos e deixei que viessem as lembranças... Lembranças acompanhadas de lágrimas e ao mesmo tempo de felicidade, felicidade de conseguirmos sermos maduros o suficiente de entender a vida, que muitas vezes é injusta! Felicidade de me libertar e de tê-lo libertado. De ter ganhado um amigo, um amigos diferente, inesquecível. Uma estória que concerteza teve um final feliz. E que pra sempre vou olhar para o pôr-do-sol e lembrarei de seu rosto, sempre me admirando e sorrindo.       

     “O valor das coisas não está no tempo que elas duram, mas na     intensidade com que acontecem. Por isso existem momentos inesquecíveis, coisas inexplicáveis e pessoas incomparáveis.”
Fernando Sabino